Estava quase na hora da loja abrir. O balcão arrumado, tudo nos
conformes. A primeira fornada já tinha saído e a segunda estava dentro do
cronograma. Eu, só na bananinha, curtindo a cozinha silenciosa, enquanto a
massa está no forno. Um momento assim é algo totalmente raro. Podia me dar um
momento para curtir a vida sossegada, né? #SQN! Escuto a porta da loja abrindo
e uma pequena discussão começa sobre uma encomenda. Estranhei, já que não tinha
nada programado para hoje cedo. Conto até dez para não ir para frente, já que
as meninas sabem lidar com esse tipo de situação, até que ouço algo que me
deixa energeticamente bagunçada: “Sou cliente, por isso sempre tenho razão!”.
Ah, se tem algo que me tira do sério é isso. Vou lá, com cara de quem não sabe
de nada, bem sonsa mesmo. Cabelo bagunçado por tirar a touca, avental sujo de
chocolate, acho que até tinha um pouco de farinha na cara. Uma dondoca, toda
emperiquitada, com o dedo na cara de uma das minhas funcionárias, bufando feito
uma louca: “Estou esperando faz mais de trinta minutos! Que tipo de espelunca
faz uma dama como eu esperar tanto tempo? Quero minha encomenda agora e...”,
“Mas senhora, já disse não tem nenhuma em seu nome. E como ficou esperando por
30 minutos se a loja abriu agora?”, “Não me interrompa, sua qualquer”. Bom, é
hora de entrar na briga: “Posso ajudar?”, “A conversa não chegou na cozinha,
intrometida! Sou amiga da dona, vou mandar ela despedir todas vocês, suas
incompetentes...” e começa uma série de insultos de baixo calão. Nisso, o
sangue já subiu, mas respiro antes de dar o troco: “A senhora é a amiga da
dona, então?”, “Isso mesmo!”, “Entranho, porque EU sou a dona e não me permito
ter amigas como você, sem educação nenhuma! Disse que está esperando sua
encomenda, mas não tem nenhuma para agora cedo. Sei disso porque sou eu que
marco todas as encomendas da MINHA loja!”. Ela começa a balbuciar algo sobre
modos e que é inaceitável perder uma cliente do nível dela. Viro de costas e
começo a ir para cozinha, mas antes de entrar, solto a cartada final: “Não
estou perdendo uma cliente, estou nos livrando de um problema. Passar bem”. Ela
sai gritando, que nunca mais comprará nada e que em breve minha loja vai
fechar. Isso foi há cinco anos, e agora a Cupcake Empire está abrindo a
terceira loja na cidade. Os negócios estão cada vez melhor. Minha mãe já dizia
que praga de sapa velha não pega. Quem disse que vida de doceira é sempre doce?
Agora vamos, que Cupcake Empire Tá na Mesa!
Cupcake Empire é um jogo de 2018, criado por Al Reduc e Yves Tourigny.
De dois a quatro jogadores, com duração média de 60 minutos, em Cupcake Empire
os jogadores são donos de uma loja especializada em cupcakes.
- Achei pelo textão que aí ser um jogo de porrada ou treta, mas é todo
meiguinho e rosinha. Odiei.
Como sempre você não sabe nada, João das Neves. Cupcake Empire tem um
tema não usual, imagens bonitinhas, meeples fofinhos, marcadores em forma de
cupcake e muitos dados coloridos, (Nota da Sra. Slovic: De cores exóticas)...
Mas não se deixe enganar. É um jogo de gerenciamento, muito competitivo e
rápido, onde qualquer descuido é fatal.
Cada jogador tem um Tabuleiro Individual que representa sua Padaria.
Temos vários especialistas, um para cada tipo de ação: Fazer Massa, Fazer
Cobertura, Construir Quiosques, Entregar e Gerenciar, cada um representado por
um dado colorido (Roxo, Amarelo, Laranja, Verde e Rosa, respectivamente), além
de três dados cinzas. Cada ação também está relacionada a um dos números dos
dados. Quando os dados são lançados, o jogador coloca-os nas colunas conforme o
número que saiu (Nota do Sr. Slovic: Nesse momento ignore a cor. Isso é bem
importante). Quando se usa uma determinada ação, sua força é igual ao número de
dados nela (Nota da Sra. Slovic: Igual a Grand Austria Hotel). Cada coluna está
dividida em seis linhas, onde são alocados os dados. Exceto pela coluna da
Gerência, as linhas três, cinco e seis indicam uma ação, o que significa que
para fazer essa ação são necessários pelo menos aquela quantidade de dados.
- Então se eu não tiver dados suficientes, não faço nada! Que bela
porcaria de jogo quebrado.
Na teoria, sim, meu caro sabichão, mas os criadores, percebendo isso,
criaram uma ótima solução. Sempre que a cor do dado for a mesma da coluna que
ele está (Nota da Sra. Slovic: Em outras palavras, se o especialista estiver
fazendo a ação na qual ele é bom), a contagem de dados começa na terceira
linha. Então mesmo que só tenha um dado verde na coluna verde, é possível fazer
a ação. E fato importante: o dado rosa é especialista em todas as áreas.
Há um Tabuleiro Central que representa a cidade, com seus bairros (seis
colunas, sendo três bairros próximos e três distantes) e ruas (quatro linhas).
Em cada cruzamento de linha coluna é colocado um meeple. Suas roupas indicam o
tipo de cupcake que ela quer. Há dois tipos e massa (Chocolate e Baunilha:
marrom escuro e marrom claro) e quatro de cobertura (chocolate, morango, limão
e menta: marrom escuro, vermelho, branco e verde). Tanto as massas quanto
cobertura têm a versão mista. Então, se o meeple tem calça marrom escura e
camisa vermelha, ele só come cupcakes de chocolate com cobertura de morango
(Nota do Sr. Slovic: Ou de massa mista com cobertura mista que tenha morango.
Os mistos servem como um tipo de coringa). Quando um cliente é atendido, ele
vai para o Tabuleiro Individual de quem entregou e não entra nenhum outro em
seu espaço. Como o número de meeples é limitado, não se pode bobear.
Há dois índices no jogo: de Produção e Vendas. Cada vez que o jogador
faz uma massa ou cobertura, aumenta seu índice de produção. Cada vez que é
feita uma entrega ou se constrói um quiosque ou padaria, aumenta o índice de
produção. No fim do turno o jogador ganha Pontos de Vitória (PVs) igual ao
menor valor dos índices (Noda do Sr. Slovic: Exemplo: se um está em 3 e o outro
em 12, você ganha 3 PVs). O jogo faz isso para haver um bom equilíbrio entre
produção e vendas. Não é aconselhável só focar um uma parte do negócio.
- E o que acontece se tira um seis no dado? Joga fora?
Não. O Dado de valor seis vai para a área de descanso. Sempre que o
jogador tira seis, há movimentação em um pequeno rondel em seu tabuleiro.
Quando o marcador passa em um determinado ponto, o jogador ganha uma Ideia
Brilhante, que serve para muitas coisas, entre eles colocar todos os dados que
estão no descanso em qualquer coluna. A quantidade de movimentos depende de
quantos seis foram rolados. O primeiro dá uma Ideia Brilhante gratuita e os
outros fazem o marcador avançar uma casa por dado. Uma boa sacada é que, como a
concorrência está sempre de olha nas novidades, cada dado que vai no descanso
também movimenta o rondel dos adversários (Nota da Sra. Slovic: Mas não dá a
Ideia que vem do primeiro seis da rodada). Cada jogador pode ter no máximo três
marcadores de Ideia. Pode-se gastar uma Ideia Brilhante para mover um dado de
especialista de coluna.
Como já falamos, quanto mais dados na ação, melhor ela é. O primeiro
nível de Massas e Coberturas permite criar uma simples, no segundo uma mista e
no último uma simples e outra mista. Já na ação de construção, a primeira
permite fazer um quiosque nos bairros próximos, a segunda em bairros distantes
e a última em dois bairros. Diferente da Padaria (Nota do Sr. Slovic: Calma, já
vamos explicar), pode ter mais de um quiosque em cada bairro. A quantidade depende
do número de jogadores. Quando todos os espaços estão ocupados, o jogador que
construir uma nova, deve remover um adversário do local. Ele ganha um ponto no
Índice de Vendas e quem saiu, perde um nível.
Os quiosques e padarias são necessários para a ação de Entrega. O
jogador só consegue entregar em um determinado bairro se tiver uma construção
nele. A força da ação determina a distância que o entregador chega. Primeira e
Segunda rua, Terceira rua e Quarta rua, respectivamente. Quanto mais distante a
rua e o bairro, mais pontos no índice de produção a entrega vale. Vender nos
pontos mais distantes também rendem PVs.
- Cara, isso está ficando muito complexo para o meu gosto.
Ué, não foi você que disse que o jogo era bobinho? Não falamos da coluna
da Gerência. Aqui há quatro ações possíveis: pegar um novo dado de
especialista; Pegar um dado de especialista e um marcador de bônus; Construir
uma Padaria em um bairro próximo e ganhar um marcador de bônus e; Construir uma
Padaria em um bairro distante ou fazer qualquer ação com força máxima.
Os marcadores são colocados nas linhas que não tem ação (como na
primeira de cada coluna) e dão bônus ou ações extras quando aquela coluna é
ativada. É possível comprar Marcadores de Bônus com Ideias Brilhantes. Só pode
ter uma Padaria por bairro (Nota da Sra. Slovic: Exceto no primeiro, onde todos
os jogadores já começam com uma) e ela não pode ser substituída, como acontece
com os quiosques, além de render pontos nos dois Índices.
Sempre há quatro objetivos aberto na partida. Todos podem ser feitos por
todos, e cada um rende seis PVs. Entre os objetivos estão ter dois quiosques em
bairros próximos e dois em bairros distantes, ou atender um número determinado
de clientes. Assim que um jogador atinge o objetivo, coloca um marcador na sua
cor nele. O jogo termina na rodada que um jogador passar dos 70 Pvs. Quem tiver
mais PV, ganha a partida.
No geral, Cupcake Empire é um jogo bem desconhecido e bem surpreendente.
Não que ele seja totalmente inovador, original, top dos tops nas listas de
melhores jogos, mas vendo a caixa e os componentes você realmente espera um
jogo bobinho, quase infantil, e ele está longe de ser isso. A arte é bonita e,
ficando muito tempo vendo os tokens de massa e cobertura, a fome aperta e dá
vontade de ir em uma loja comprar alguns cupcakes. Os meeples são uma graça.
Bem fofinhos. Mas o jogo frita o cérebro. Não dá para fazer sempre a melhor
ação, por isso é bom saber o que fazer para maximizar sua pontuação com o que
tem na mão. Um pouco de improviso ajuda no gerenciamento. A pontuação por
rodada começa baixa, mas vai subindo meio que exponencialmente (Nota do Sr.
Slovic: Não sabe o que é isso? Procura no Google ou pergunta para seu professor
de matemática), então se um disparar será difícil de alcançar. Se tiver a
chance, não deixe de jogar. É um jogo bem divertido e que dá água na boca.
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