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domingo, 13 de fevereiro de 2022

We Care

O calor é insuportável, o gerador de energia não é suficiente nem para abastecer o local com luz o dia inteiro, imagina ligar algum ar-condicionado… Sete dias sem dormir direito. Na verdade, estou acordada a pelo menos 36 horas. Meus reflexos estão mais lentos, minha atenção está seriamente prejudicada, mas não tenho o direito de cometer nem o menor dos erros. Um dos motivos de não dormir direito são os mosquitos. Boa parte das pessoas estão aqui por causa deles. Quase não há suprimentos. Os militares que ficam na estrada vasculham todos os veículos que passam e uma parte significativa das cargas, não importa do que sejam, ficam com eles como “pedágio”, isso quando não um bando vem aqui com suas armas em punho querendo levar comida ou remédios, ou pior, quando procuram companhia para seus oficiais de plantão. Mas nada me desanima, exceto perder a batalha. Sei que lutamos contra o inevitável, o único destino certo para qualquer ser humano, mas isso não torna menos frustrante a sensação de impotência e aquele sentimento que eu poderia ter feito mais. Todos me perguntam: “Por que está aí tão longe de sua família e amigos, rodeado de estranhos?” e só que está aqui na trincheira da vida sabe a resposta: “Se eu não ajudá-los, ninguém vai. Esse é o motivo de ter vindo ao mundo!”. Somos médicos e para a vida não há fronteiras. We Care, Tá na Mesa!



We Care é um jogo lançado em 2021 por Fabiem Riffaud e Juan Rodrigues. De dois a cinco jogadores, com duração média de 30 minutos, em We Care somos médicos em alguma região necessitado do mundo, com pouquíssimos recursos, tentando salvar vidas.




- Até parece. Médicos não passam de mauricinhos e patricinhas que si ligam para si mesmo. Nunca que estariam em um local sem as mordomias da boa vida.

Sua criatura lorpa, lapuz e labrega. Sinto (muita felicidade em) informar que o senhor está incorrigivelmente equivocado. Há incontáveis profissionais que estão pelo mundo, em locais remotos, em conflitos ou que estejam passando por grave necessidade. Não só médicos, mas todo o tipo de profissional da saúde atuam em várias organizações de ajuda. E em We Care, os jogadores são parte desse time. O jogo é cooperativo, então ou todos ganham ou todos perdem (Nota da Sra. Slovic: E é muito fácil perder aqui).

As regras são bem simples. Em seu turno, o jogador deve realizar uma de quatro ações possíveis: baixar uma carta, usar sua Especialidade (se disponível), realizar uma Triagem (se for o médico chefe da rodada) ou Passar. A rodada termina quanto todos passarem ou quando não houver mais leitos disponíveis no hospital. O objetivo do jogo é acabar com a pilha de cartas de Emergências antes que o deck de Reserva Médica acabe, revelando a carte de Desastre Sanitário (Nota do Sr. Slovic: Que significa fim de jogo).




- Só isso? Jogar carta fora até acabar. Que jogo sem graça.

Parece que você entendeu o jogo sem conhecer tudo, né? Só que não, manezão! Se fosse assim, não haveria desafio (Nota do Sr. Slovic: Se bem que um pouco menos de desafio aqui não seria de todo ruim) e sem desafio não tem jogo. Quase todas as cartas do jogo trazem péssimas consequências quando jogadas na mesa. O grupo tem que saber administrar essas adversidades, mas sem falar sobre as cartas que tem em mãos (nota do Sr. Slovic: Sem chance de Jogador Alfa aqui).

Há três tipos de cartas: Leitos, Fadiga e Ajuda, sendo que tem pouquíssimas dessa última. As cartas de Leito indicam quanto o hospital está próximo de ficar lotado (Nota do Sr. Slovic: Em condições normais de temperatura, volume e pressão, não pode ter mais de sete leitos em jogo. Mas há situações que diminuem esse número). Uma única carta pode ocupar três vagas de uma vez. Além disso dependendo do símbolo que está na carta, uma carta da Reserva entra em jogo, o jogador recebe cartas de Contágio ou as duas situações acontecem. Esses símbolos também indicam as cartas que podem ser retiradas do jogo quando alguém usa sua Especialidade, mas só uma sai do jogo.

As cartas de Fadiga (conhecida também como Burnout) alteram as regras (Nota da Sra. Slovic: Sempre para pior) para o jogador que a colocou na mesa. Um mesmo jogador pode ter até três Burnout ativos. Se pegar o quarto, é fim de jogo. E as cartas de Ajuda desocupam leitos ou permitem descartar uma Fadiga da mesa.

O jogador pode passar a vez no seu turno (Nota da Sra. Slovic: Mas alguns Burnout colocam restrições para fazer essa ação), não jogando mais na rodada. O bom é que cartas ruins que estejam em sua mão não prejudicarão o bom andamento do setor agora. O péssimo é que, para vencer, em algum momento você precisará joga-las, então só está adianto o inevitável (Nota do Sr. Slovic: Claro que em rodadas futuras essas cartas podem não fazer tanto estrago quanto na atual). O jogador também vai escolher um de seus tokens de Suporte. Eles servem para dar Apoio a um colega no fim da rodada. Se todos passaram e não houve Superlotação, todos passam o token escolhido para o jogador a direita ou esquerda, conforme indicado na seta. O Apoio permite que se descarte todas as cartas de Burnout ou de Contágio. Se o hospital passou de sua capacidade, essa fase não ocorre (Nota do Sr. Slovic: Ninguém tem tempo para dar uma força ao colega necessitado quando tudo está lotado e o mundo está desabando sobre sua cabeça. Nem mesmo para si).




No fim da rodada verifica-se quantos símbolos de Contensão tem nas cartas de Emergência usadas. Cada ícone completo permite que uma carta da pilha de Emergência seja descartada. Todas as cartas usadas de Leito e Ajuda são retiradas da partida. E por fim ocorre o Contágio, quando cartas da Reserva vão para o topo do deck de Emergência. Essa quantidade varia de três a seis e depende de quantas cartas ficaram nas mãos dos jogadores (Nota da Sra. Slovic: Alguns tipos Burnouts alteram esse limite máximo, claro que para cima. Sempre pode piorar o que já está ruim). Caso os jogadores tenham ficado coletivamente com mais de 10 cartas na mão, o jogo termina.

- Credo, esse jogo é muito difícil.

Obrigado por explicar o óbvio, professor Abobrinha. We Care usa o mesmo sistema do Grizzled (Nota do Sr. Slovic: Quem conhece sabe o tamanho da encrenca. Quem não sabe do estou falando, trate logo de jogar. É uma aula sobre Primeira Guerra Mundial) e o jogo foi criado para não ser vencido sem esforço (Nota da Sra. Slovic: Grizzled é pior).

No início da rodada todos os jogadores revelam a carta do topo do seu deck de contágio e executam sua ação imediatamente, o que pode ocasionar em Quarentena, deixando o médico fora da desta rodada (Nota da Sra. Slovic: Se todos ficarem que Quarentena ao mesmo tempo, fim de jogo). O marcador de Médico Chefe passa para o próximo jogador, que deve distribuir aos companheiros no mínimo quatro cartas da Reserva, da maneira que achar melhor. E a batalha para salvar vidas prossegue por mais uma semana.

No geral We Care é um jogo extremamente desafiador. É fácil de aprender, mas dificílimo de dominar. É necessária uma ótima comunicação não verbal entre os jogadores para se ter um vislumbre de sucesso. E não estamos falando de gestos para indicar que você tem duas cartas de três leitos ou o efeito de seu burnout, é saber ler as expressões faciais dos colegas e passar informações pelo olhar (Nota da Sra. Slovic: É um belo exercício para todos). O jogo é inspirado na organização Médicos Sem fronteiras e traz várias informações bem legais sobre o importante trabalho deste fantástico grupo.

E é isso. Shisho!



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